Quem matou Ítalo?

Uma criança de 10 anos foi morta pela Polícia! Toda a canalha vai apontar o dedo para quem elegeram como o único culpado: O Policial. Afinal, quem matou Ítalo?




O texto a seguir é da lavra do Coronel de Polícia Militar Ernesto Puglia Neto, da Polícia Militar do Estado de São Paulo e exprime muito bem e de maneira clara o que de fato levou a esta tragédia.

Quem matou Ítalo?


Na noite de 02 de junho, o garoto Ítalo, de 10 anos, morreu, atingido por um projétil calibre .40, disparado por um policial militar. Momentos antes, a criança, acompanhada de um amigo de 11 anos, havia furtado um veículo de luxo num condomínio, onde havia entrado, pulando o muro, para tentar roubar algum apartamento. Antes do desfecho fatal, a polícia realizou um acompanhamento e cerco ao veículo. Segundo relatos da criança que estava junto no veículo, e foi apreendida ilesa, Ítalo disparara, em direção aos policiais, algumas vezes durante o trajeto, de dentro do veículo com os vidros escurecidos.Ítalo é oriundo de um lar desestruturado, cuja mãe esteve pouco presente, em virtude de algumas prisões. O pai ainda está preso. Ele perambulou por lares improvisados, casa de amigos e parentes, dormiu nas ruas e, esteve nas mãos do Estado em algumas ocasiões. Isso agora é apontado pelas entidades de defesa dos Direitos Humanos e pela imprensa.
Mas, no momento, a atenção está voltada para o policial que puxou o gatilho. Afinal, foi ele o agente que levou Ítalo à morte.
A mãe, em prantos, como não poderia deixar de ser, se ressente ao ver seu filho ter alcançado tão trágico final de vida. Mas, onde ela estava momentos antes, quando seu filho saiu de casa, armado, para cometer um crime? O choro e o desespero podem, muito bem, ser por esse motivo! Mas a mãe não matou seu filho. Ela é, diriam, vítima de uma sociedade repleta de desigualdades e injustiças sociais! Então deixemos a mãe de fora.
E o Estado? Qual o papel dele? Teve em suas mãos um garoto fragilizado, vítima de um lar desestruturado, que já havia delinquido antes, várias vezes. Mas, o Estado tem que cumprir suas leis. E as leis determinam quando alguém pode ser internado nas Instituições – e não era o caso de Ítalo. As leis determinam a aproximação com familiares, e com Ítalo isso também foi feito. Por ter cumprido suas leis, deixemos o Estado de fora.
As entidades de defesa dos Direitos Humanos, que correm para as delegacias quando se noticia uma morte decorrente de intervenção policial, apontam, logo de pronto, a possibilidade de execução e não se preocupam com o histórico anterior. Duvidam a todo momento do relato passado pelos responsáveis pela aplicação da lei. Com isso, prestam um verdadeiro desserviço à sociedade, pois enfraquecem uma Instituição que tem como objetivo maior “salvar vidas”. Pior ainda, quando esse desserviço é prestado por funcionários do próprio Estado, que enxergam apenas um dos lados da situação surreal que vivemos. Esses defensores dos Direitos Humanos se orgulham de suas leis protetivas – diga-se, da existência delas - mas não se preocupam com a efetividade dos resultados que elas produzam, como se o simples fato de o direito ter sido consagrado na legislação, pudesse promover a dignidade humana a que ele se refere. Precisamos de mais entidades que lutem pela dignidade humana e menos entidades que lutem somente pelos direitos humanos. Mas, também não foram eles que puxaram o gatilho!
A imprensa, embora deva divulgar a verdade, é sensacionalista e tendenciosa. Participa, também, do enfraquecimento da instituição policial, glamourizando o crime. Ou seria absurdo imaginar que, com seus dez anos, Ítalo já ouvira de seus amigos e vira na televisão, situações em que os bandidos, principalmente aqueles que querem adquirir o respeito dos demais, “trocam tiros com a PM”? Nossos programas de jornalismo sensacionalistas, nossas novelas e filmes nacionais apontam para dois ideais antagônicos: “bandido bom é bandido morto” e “ser bandido é garantia de sucesso e respeito na comunidade”! Mas, repórteres, jornalistas e roteiristas não andam diuturnamente zelando pela segurança alheia e colocando-se em risco de ter que agir, caso sejam injustamente agredidos. Portanto, eles também não puxaram o gatilho!
Voltemos ao policial, que disparou um tiro em direção a Ítalo, atingindo-o na cabeça, durante o acompanhamento e cerco a um veículo em fuga, que já havia efetuado disparos no decorrer do trajeto, e do qual pouco se sabia dos ocupantes, visto que os vidros eram escurecidos. Pouco se sabe sobre ele, mas com base na média dos policiais de São Paulo, podemos dizer que é pai de família; ganha pouco, e em razão disso deve fazer alguma atividade extra; estava de serviço, zelando pela segurança da sociedade; e, com certeza absoluta, já salvou inúmeras vidas com suas intervenções. E, por que não ressaltar isso, sem qualquer hipocrisia, deve ter, com essa ação, salvo a vida de mais algumas pessoas, pois, não se sabe quem poderia ter sido a vítima, caso essas duas crianças continuassem sua ação delitiva, conduzindo um veículo para o qual não tinham a perícia suficiente – nem vamos falar em habilitação legal – armados e com a intenção declarada de cometer crimes. Sim, ele puxou o gatilho! E deve ter sido uma surpresa enorme de saber que tinha atirado contra uma criança! Talvez isso o assombre pelo resto de sua vida. Talvez isso volte à sua mente, toda vez que olhar para seu próprio filho. Mas, por tudo que sabemos até agora, ele cumpriu seu dever de proteger a sociedade, expondo a sua vida! Mas, por ter puxado o gatilho, ele é o único responsável.
Ítalo está morto. O policial que o matou irá responder por isso criminalmente e moralmente. A mãe de Ítalo será elevada à condição de vítima - a imprensa e as entidades de defesa dos Direitos Humanos se encarregarão disso. E, daqui a algum tempo, veremos essa tragédia se repetir, pois outro policial vai acabar sendo obrigado a puxar o gatilho!
Ernesto Puglia Neto


Este tema não terminou! A não ser que nossa sociedade opte pelo curso correto a ser adotado, teremos muitas linhas ainda a escrever, opiniões a ouvir e matérias a assistir.
Para ilustrar trago uma música de Chico Buarque de Holanda.


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