Todos recriminam o preconceito, mas a verdade é que toda época tem seu preconceito da moda!
“E
dos problemas brasileiros, nenhum que me inquietasse tanto como o da
miscigenação”
Gilberto
Freyre – Casa Grande E Senzala¹
Toda a sociedade, todo o
agrupamento humano, busca utopias. Por isso essa sociedade se organiza e estrutura
para conquistar esse “ideal utópico”; no entanto, utopias são o que são:
utopias. Em razão dessa realidade inescapável, fazemos tudo o que podemos para
tornar pelo menos nossa vida um “ideal”, com fomento à educação, à cultura, ao
bem viver nas cidades etc.
E na busca desse “conteúdo
civilizatório” coerente com uma realidade humana fática, desenvolvemos
mecanismos para tornar a vida dos indivíduos melhor, ou, pelo menos, ofertando
igual oportunidade a todos a fim de se engendrarem no tecido social de maneira
razoavelmente eficiente. Estes mecanismos podem ser formais ou informais. Na
forma, temos a lei e as instituições ou organizações que se adequam a ela a fim
de desenvolverem suas missões conforme seu objetivo originário. No que diz
respeito ao aspecto informal temos a moral e os costumes.
O esperado é que esses
mecanismos deveriam coexistir em constante simbiose, porém isso não se processa
bem dessa maneira, ficando numa “relação de proporção inversa”; ou seja, quanto
menos moral ou costume tenho numa sociedade (menos mecanismos informais de
controle social), mais preciso da lei e vice-versa.
Em razão mesma dessa pobreza
moral e de costumes que temos “preconceitos sociais”. E foi em razão dela que
foi editada a lei federal 7.716/89 que pune o racismo. Pune o racismo, mas não
pune o preconceito, a não ser que este se transmute em injúria racial. O mesmo
ocorre em relação às questões de gênero e de orientação sexual. Neste século 21
é imoral e socialmente reprovável (e não poderia ser diferente) tomar atitudes
preconceituosas em relação a questões como as citadas; porém há preconceitos de
moda!
A citação tirada de Casa
Grande e Senzala mostra qual era a concepção no final do século 19 e até metade
do século 20, sobre a miscigenação. No ponto citado, Gilberto Freyre se insurge
contra essa concepção de que a miscigenação gerava “pessoas deficientes”, e o
tempo provou que ele estava certo!
Mas mesmo em pleno século 21,
neste nosso Brasil (e parece que só nele) temos muitos preconceitos de moda ou
de narrativa. Esses preconceitos sequer podem ser punidos e não o são
efetivamente, muito pelo contrário, são defendidos por articulistas, veículos
de imprensa, “intelectuais”, acadêmicos e toda sorte de gente que visa mais a um
objetivo de proselitismo ideológico, que criticar algo ou alguém em razão de
buscar melhorar-lhe.
Falo da Polícia Militar.
Na Coluna Opinião, Tendências
e Debates do dia 08/09/2016 da Folha de São Paulo foi publicado o Artigo “É preciso barrar a escalada
repressiva”, onde os articulistas Guilherme Boulos e o Senador Lindbergh
Farias, destilaram sem o menor pudor seu preconceito contra a Polícia Militar,
não só por distorcer fatos para referendarem sua opinião e visão de mundo (que
se diga, desde já, somos os maiores defensores dessa liberdade; entretanto não é
admissível a perfídia na argumentação) como acusam infamemente os Policiais
Militares de genocidas, senão vejamos.
Citam no segundo parágrafo do
artigo: “Como reação à manifestação
pacífica, a PM paulista protagonizou cenas de selvageria após o encerramento do
ato. Policiais provocaram e atacaram os manifestantes de forma gratuita, quando
estes já se dispersavam. Ficou evidente a premeditação e determinação política
da ação policial”.
Não foi isso o que aconteceu!
No dia 04/09/2016 a manifestação realmente corria pacífica e ordeira dentro do
esperado para uma manifestação, porém, no ato de dispersão e em vista do volume
de pessoas, os agentes do Metrô fecharam os acessos da Estação Faria Lima.
Diante disso o grupo que era pacífico, tornou-se uma turba violenta e iniciaram
a depredação da estação e dos arredores, não restando outra alternativa à
Polícia Militar que a de proceder às ações de Controle de Distúrbios, inclusive
com o uso da força, o que é garantido pelo Pacto dos Direitos Civis e Políticos
da ONU (aplicável ao Brasil não só por ser signatário, mas também pelo que
prevê o §3º do art. 5º de nossa Constituição Federal). Qual atitude os
articulistas queriam ver? Deixar a turba saciar-se até a ruína de tudo quanto
ali existia? Há outra pergunta: por qual razão – que não o puro sadismo – a
Polícia Militar reprimiria uma manifestação pacífica?
Apesar do título, não ficaram
só nisso, tinham que expor ainda mais seu preconceito irresponsável contra os
quase 100 mil homens e mulheres, profissionais, pais, filhos, irmãos, maridos ou
esposas de alguém e que compõem a Polícia Militar do Estado de São Paulo ao
fazerem a seguinte afirmação no parágrafo 10: “A violência da PM, evidentemente, não é algo novo. As polícias
protagonizam em todo o Brasil, há muito tempo, um verdadeiro genocídio contra a
juventude pobre e negra das periferias. Lá a bala não é de borracha”.
Então senhor Guilherme Boulos,
senhor Senador Lindbergh Farias todos os Policiais Militares, para Vossas
Senhoria e Excelência, são genocidas, psicopatas, assassinos e racistas! Claro,
e eugenistas também! Afinal de contas qual a melhor maneira de acabar com a
pobreza senão matando os pobres, não é mesmo?
O que dói é que tal discurso é
aceito, tolerado e livremente veiculado por um órgão de imprensa que se diz
responsável. Isso só vem ao encontro da tese de que há preconceitos sim que
pegam, que estão na moda, como o que é destilado contra os Policiais Militares quase que diariamente nos diversos
organismos de imprensa; como também pela sua outra face não menos perversa: o
silêncio em relação ao morticínio desses mesmos policiais.
Como no final do século 19 em
que um preto morto era só mais um preto morto (e bem feito!), o mesmo ocorre em
pleno século 21 com os Policiais Militares, através de visões como a do senhor
Guilherme Boulos e o Excelentíssimo Senador Lindbergh Farias.
“Um
país sem polícia é um grande navio sem bússola e sem timão”
Alexandre
Dumas – Os Moicanos de Paris²
1. FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala. 49ª ed. Editora Global. São Paulo. 2004. Pág. 31.
2. In
MONET, Jean-Claude. Polícias e sociedades da Europa. Coleção Polícia e
Sociedade. Vol 3. 2ª ed. EDUSP. São Paulo, 2002.
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