Foi publicado hoje pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, seu 12º Anuário sobre a violência no Brasil em 2017. Adivinhem? Batemos nosso próprio recorde de homicídios de novo! Viva o Brasil!
Créditos: Márcio Bittencourt/Estadão Conteúdo
Foi divulgado hoje, 9 de agosto de 2018, o 12º Anuário de Segurança Pública do
Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ligado à Fundação Getúlio Vargas de São
Paulo – FVG-SP, constatando o que tem sido uma marca “de louvor” do Brasil
deste século XXI: ser o campeão mundial de mortes intencionais (homicídios,
latrocínios e os novos feminicídios, “policialicídios¹” e “bandidocídios²”).
Ano após ano batemos nosso próprio recorde! O último, em 2017, ficamos com
63.880.
Não
tem para ninguém! É nóis!
Porém
a matéria do Portal UOL – Universo On Line, não traz algumas considerações que
achamos importante fazer, como as de “como foi que chegamos a este ponto, de
números de Guerra Civil no Brasil?”; o que foi considerado pelos Altos Membros
do Fórum foi mais proselitismo que apresentação de uma análise consistente.
Como
por exemplo o dado de que 95% das armas apreendidas pela Polícia no ano passado
não estavam no Sistema da Polícia Federal, que é o SINARM – Sistema Nacional de
Armas. Muito simples a resposta e até óbvia; do universo de armas na mão dos
criminosos, quase todas são de fora do país! São traficadas seja pelas
fronteiras secas, sejam chegando tranquilamente em contêineres de navios. Mas
para o Presidente do FBSP essa é a razão para não liberar o armamento para a
população.
A
pergunta que eu faço a ele é: o que que tem uma coisa a ver com a outra?
Deduzo
que para ele é melhor termos criminosos armados até os dentes com armas ilegais
do que armar o cidadão de bem com armas legais. Seria isto? É um absurdo de per si, vindo de um pesquisador de seu
quilate.
Mas já
que o FBSP não quer fazer uma análise de como chegamos a este estado de
barbárie, eu farei!
Conseguimos
chegar aqui em virtude de dois fatores: a anomia e a impunidade, sendo que esta
se apresenta também por duas características, que é a leniência do Sistema
Judiciário e a Incapacidade de Solucionar os Crimes.
Comecemos
pela impunidade!
No
Brasil (dados disponíveis à vontade na internet) a taxa de identificação dos
autores de mortes violentas intencionais gira nos parcos 8%, sendo que apenas
2% vão a julgamento; ou seja, matar alguém no Brasil é algo muito tranquilo; as
chances de você ser reconhecido e depois ser punido é 1 em 50! As causas disso são
várias e vão desde nosso anacrônico Inquérito Policial ao sucateamento (de
todas as formas) da Polícia, em especial as Polícias Civis, com sua estrutura
ilógica para um organismo policial, burocracia, perícias precárias de recursos
etc.
A
outra forma de impunidade é a leniência dos juízes e do Sistema Judicial como
um todo, incluindo o Ministério Público, que teima em soltar, seja nas
Audiências de Custódia (verdadeira prisão de porta giratória), ou em decisões
de Primeira Instância, criminosos contumazes (mais aquela que esta). É
inacreditável para qualquer um, mas em especial para nós Policiais, levar a um
juiz um bandido que já praticou 4, 5 10 assaltos à mão armada e vê-lo ser
solto, às vezes com um fuzil.
Tudo
isso é impunidade.
Com
relação à anomia (já abordamos este fenômeno em nosso Blog) esta é talvez o
principal fator de porquê chegamos aqui.
Apesar
de anomia significar “sem norma”, “sem lei”, não necessariamente ela se
manifesta sempre assim; muito pelo contrário, é através de leis equivocadas (que
geram políticas públicas equivocadas) que podemos ver agindo de maneira plena a
anomia.
Para o
caso das mortes intencionais, eu nomeio três leis que hoje formam os pilares da
anomia dos assassinatos que são a Lei de Execuções Penais – LEP, o Estatuto da
Criança e do Adolescente – ECA e o Estatuto do Desarmamento – ED.
É a LEP
que prevê que um criminoso, após o cumprimento de apenas 1/6 da pena pode progredir
para o Regime Semiaberto, saindo de dia e dormindo no presídio; como também, as
“saidinhas temporárias” do dia das mães, pais, natal etc. Isto não existe em
lugar nenhum do mundo! Nem na Suécia, Finlândia ou qualquer paradigma de mundo
civilizado que você queira escolher. A anomia aqui é apresentada em forma de
não reparação social pelo crime cometido à sociedade. E respaldado pela lei!
O ECA
é o que afirma que um cafumango marmanjão
de 17, 16 anos não sabe o que é certo ou errado, que matar alguém é errado, é
crime; coitado! A este aspecto da anomia, dá-se o nome de “áreas de exclusão”,
que não só podem ser áreas físicas onde a lei deixa de ser exigida, como também
a determinados grupos, neste caso, os adolescentes. Se levarmos em conta que há
indicativos de que 50% dos crimes cometidos no Brasil os são por adolescentes,
fica óbvio a tranquilidade para cometer assassinatos.
E
nosso ED cria também uma certa área de exclusão e uma situação muito peculiar.
Primeiro reputou uma narrativa de que a violência era provocada por armas, que
são objetos inanimados; e não por pessoas! A partir dessa premissa falsa, desse
proselitismo rasteiro, retiraram as armas das pessoas de bem, porém nada
fizeram para reprimir o outro lado. Para se ter uma ideia, um bandido com um fuzil
pega uma pena de 3 a 6 anos. Isto no Brasil nem cadeia dá! Para uma pessoa de
bem, honesta, trabalhadora, cumpridora de seus deveres uma multa já é o “fim do
mundo”, mas uma pena de 6 anos em que pode começar no Regime Semiaberto para um
criminoso é um passeio no parque num domingo! Ou seja, criou-se uma área de
exclusão, de certa maneira, para os criminosos de forma a estes se armarem sem
praticamente serem incomodados.
Foi
por estas causas que chegamos aqui: como o país em que mais se mata e se morre
no mundo!
Por
causa de uma visão ideológica, equivocada e, pior, desumana de celerados que
buscam uma “sei lá o quê” de dominância de poder, ou dinheiro, ou o raio-que-o-parta... Só sei que quem vem
morrendo aos montes são os mais pobres, os trabalhadores, homens e mulheres,
jovens ou não, que poderiam contribuir muito para nosso país.
Só tenho
um adjetivo para gente que teima em não enxergar isso: psicopata!
Até
quando vamos chorar nossos entes queridos? Até quando?
¹ Este
neologismo é para destacar que foi contabilizado pelo FBSP o homicídio de
policiais.
² Este
que eles também contabilizaram (e por quê não?) a morte de bandidos pela Polícia.
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