A institucionalidade nunca esteve tão em voga na "Terra de Pindorama"! Fala-se dela aos quatro ventos. Ora que está ameaçada, ora que está sendo aplicada, entretanto, o que é, afinal, a institucionalidade?
Todos temos em certa medida a noção do que é a atuação da institucionalidade, mas muitos desconhecem sua essência material na vida das pessoas. A imagem que ilustra este artigo é deliberada: quando queremos exemplificar a institucionalidade no Brasil, logo recorremos à imagem do Congresso Nacional. Não é à toa! Os poderes de uma República ou Monarquia, a Religião, os Organismos de Estado são a parte material dela em um país. A Polícia, por exemplo, é parte de toda esta dimensão.
A baliza que buscaremos usar neste tema é a da "Teoria das Instituições"¹ do Nobel de Economia de 1993, o Professor e Economista Douglass North.
Em sua teoria Douglass North percebeu que as trocas entre pessoas e entre estas e as Organizações² não ocorrem de maneira pacífica, mas há várias "áreas de atrito" (atrição!) que buscam ser aparadas a fim da manutenção de uma relação social saudável e civilizada. De há muito verificou-se que estas contendas, grandes ou não, não podiam ser resolvidas apenas entre as partes privadamente, pois em muitos casos descambavam para vinganças privadas, uso de violência, duelos e vendetas. A presença, e mesmo a interferência, de uma terceira parte isenta não só se provou útil, mas necessária com a complexidade das sociedades ao longo das eras. Do chefe da tribo, ao rei e nas repúblicas em geral, após a "Teoria Liberal Clássica" de Montesquieu, que desenhou a chamada tripartição de poderes como os conhecemos hoje, buscou-se um meio mais eficiente de resolução dos conflitos privados e até entre estes e o estado.
E é exatamente a forma como são conduzidas as resoluções dos conflitos privados, e o quanto se busca o poder estatal para solucioná-los, que indicam o nível de maturidade institucional de determinada sociedade ou país.
Douglass North traz como indicador de desenvolvimento de uma determinada comunidade a capacidade que a sua institucionalidade tem de emprestar "capital social"³ a esta mesma sociedade. Como temos inserido no conceito de capital social a noção do denominado "accountability", ou seja, numa tradução livre, a clareza do que se faz e a sua respectiva prestação de contas; isso definirá o sucesso, ou o fracasso, social e econômico de uma dada nação. Quanto mais valor inserido e arraigado nos indivíduos de tal comunidade, maior o capital social e, consequentemente, mais eficiente será a ação das instituições. Os conflitos (atritos) irão ocorrer, porém em menor proporção e com muito menor apelação ao sistema de justiça, buscando-se, no mais das vezes, a mediação ou a arbitragem, não sendo incomum tais atritos se extinguirem no seio do grupo desses mesmos indivíduos.
North ainda traz ao tema , além do capital social como indicador de eficiência institucional, a "Trajetória de Dependência" que cada sociedade tem na história da construção de sua própria institucionalidade.
É aqui que o Brasil tem que encarar seu passado e "cobrar" de Portugal esse desarranjo e disfuncionalidade de seus atuais "poderes republicanos". Porquê nos recusamos a endireitar e fazer parte de verdade do seleto grupo de países desenvolvidos? Porquê preferimos por sobre as pessoas uma canga pesada de um estado inchado, populista, patrimonial e com um estamento burocrático letárgico e mastodôntico sem a devida contraprestação? Quem nos responde a estas indagações é Raymundo Faoro em sua memorial obra "Os Donos do Poder".
A partir daqui é que vamos explorar a formação da institucionalidade brasileira, nossa trajetória de dependência, o por quê de nosso capital social deficitário e como recuperá-lo, ou emprestar novo valor.
Até o próximo artigo!
Parabéns pela iniciativa. Um tema interessante para desanuviar a mentalidade política do brasileiro.
ResponderExcluirPelissari, excelente artigo.
ResponderExcluirParabéns pela clareza de ideias e coerência no trato desse assunto.
Maravilhoso texto; abrangente, auto explicativo, didático, esclarecedor e verdadeiro.
ResponderExcluirAcaba trazendo para os nossos dias os problemas iniciados em um tempo distante e o torna atual.
Há de se pensar. Parabéns .